Há dois anos, hospedei em minha casa uma amiga inglesa, recem chegada de uma excursão de quatro meses pela América Latina, que terminou no Rio de Janeiro e incluia no pacote o city tour visitando os principais pontos turísticos: Corcovado, Pão-de Açúcar, Copacabana.
E aí, onde levá-la?
"Acionei" meus filhos, um deles nos levou para visitar a Catedral Metropolitana, a Igreja Santa Cruz dos Militares, a Igreja da Candelária, apresentou-a ao caldo de cana e ao pastel.
Eu conhecia todas essas igrejas mas não como "turista", engraçado, a gente vê com outros olhos, sem a iluminação e ornamentação usadas nas cerimônias, presta-se mais atenção nos detalhes de arquitetura, nas imagens. Dalí fomos ver a Biblioteca Nacional, o Museu de Belas-Artes e outros pontos pelos quais a gente passa quase todos os dias sem dar maior atenção, que lástima!
Meu filho mais novo e minha nora, nos levaram à uma roda de samba na Pedra do Sal cuja existência, eu, carioca da gema, ignorava! Trata-se do local no bairro da Saúde, para onde eram levados os escravos ao chegarem no Rio de Janeiro, por ser muito próximo do Cais do Porto. Alí, atualmente, se reúne a nata do samba-de- raiz, além de novos compositores/sambistas que levam a letra de suas músicas impressa e que é depois distribuída entre os presentes. Violões, cavaquinho e pandeiro fazem o acompanhamento da melodia, o compositor canta e a platéia tenta seguir, meio que murmurando e depois com bastante entusiasmo, um possível sucesso. Um pequeno bar vende a bebida e caldinho-de-feijão. Muita animação, programa inédito também para mim e que minha amiga curtiu muito!
Entretanto, isso cobriu apenas dois ou três dias das quatro semanas restantes!
Recorri então ao livrinho da Riotur que foi de grande ajuda. Através dos telefones fornecidos, marquei várias visitas com guia falando inglês, e foi uma surpresa atrás da outra: Santa Teresa, fomos de bondinho, visitamos o Museu do Bonde e depois caminhamos até o alto para ver o Parque das Ruínas de onde se descortina uma das mais belas vistas da cidade, entardecia e tudo parecia envolto numa luz dourada! Caraca! Eu não conhecia nada daquilo!
E os passeios se sucederam: visita guiada ao Theatro Municipal, de cujo palco pudemos ter uma noção do que o artista vivencia; tour de escuna pela Baía de Guanabara; Ilha Fiscal. Como é que a gente nasce e vive numa cidade e não a conhece como devia? Fica-se sempre deixando para depois, está alí, à disposição, "outro dia eu vou..." Aconteceu comigo!
O fecho de ouro foi um lanche na Confeitaria Colombo, cuja foto ela vira num livro e se encantara com a decoração e, de tal forma, que tivemos que repetir a dose! Outro motivo de encantamento foi a visão da imensa pilha de cocos, descarregada no Calçadão, à espera de serem encaminhados para os diversos quiosques, bem cedinho: por causa da pele dela, muito branca, íamos à praia nas primeiras horas da manhã, coisa aliás bastante saudável!
Quando minha amiga deixou o Rio de Janeiro, levou consigo uma imagem diferente da Cidade e ficou em mim um desejo muito grande de conhecer melhor o lugar onde nasci!